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Na fase pandémica que vivemos a nível internacional, o próprio Ministério da Educação viu-se confrontado com sérias dúvidas sobre o regresso das crianças e jovens aos estabelecimentos de ensino. Inúmeros estudos a nível europeu apontam para o impacto do confinamento na saúde mental das camadas mais jovens, perspetivando um aumento considerável de sintomatologia ansiosa e depressiva. 

A aposta do  Ministério de Educação que tornou público no dia 31 de Julho 2020 para a abertura de candidaturas aos Agrupamentos de Escolas no âmbito do Programa Nacional de Promoção do Sucesso Escolar é uma oportunidade de crescimento. O objetivo é dinamizar planos de desenvolvimento pessoal, social e comunitário, fomentando a importância do bem-estar emocional, autoconfiança, capacidade de relacionamento do aluno consigo próprio, com os outros e a comunidade escolar. 

Aposta na saúde mental dos alunos

Este tipo de programas faz sentido uma vez que a investigação científica tem vindo a comprovar que os alunos com alta inteligência emocional tendem a obter melhores resultados académicos (MacCann et al, 2020). De acordo com estes autores, para além do quociente intelectual e da personalidade, a inteligência emocional também pode ajudar os alunos a ter sucesso. Não é suficiente ser inteligente e trabalhador, saber gerir as suas emoções é uma competência importante para o sucesso escolar. 

Para mais sucesso académico, mais inteligência emocional

Neste sentido, a equipa de MacCann decidiu fazer uma meta-análise de mais de 160 estudos no sentido de verificar uma relação entre a inteligência emocional e o sucesso académico, bem como encontrar evidências que os programas de aprendizagem social e emocional melhoram o desempenho académico. Para o estudo, a equipa analisou dados representando mais de 42.000 alunos de 27 países, publicados entre 1998 e 2019. Mais de 76% eram de países de língua inglesa. Os alunos variavam em idade desde o ensino básico até a faculdade.

Os pesquisadores descobriram que os alunos com maior inteligência emocional tendem a obter notas mais altas e melhores resultados em testes de desempenho do que aqueles com menor pontuação de inteligência emocional. Essa descoberta manteve-se verdadeira mesmo quando controlados por fatores de inteligência e personalidade. O que foi mais surpreendente para os pesquisadores foi o vínculo mantido independentemente da idade.

Saber gerir emoções e relacionamentos

Quanto ao motivo pelo qual a inteligência emocional pode afetar o desempenho académico, MacCann (et. al, 2020) acredita que uma série de fatores podem entrar em jogo. Os alunos com maior inteligência emocional podem ser mais capazes de controlar emoções negativas, como ansiedade, tédio e desilusão, que podem afetar negativamente o desempenho académico. Além disso, esses alunos podem ser mais capazes de gerir o mundo social ao seu redor, formando melhores relacionamentos com professores, colegas e familiares, todos importantes para o sucesso académico.

 

Um dia típico na vida de uma criança com pouca Inteligência emocional

A autora MacCann descreveu o dia escolar de uma estudante hipotética chamada Kelly, que é boa em matemática e ciências, mas com pouca inteligência emocional:  

– Descreve que a mesma tem dificuldade em ver quando os outros estão irritados, preocupados ou tristes. 

– Não sabe como as emoções das pessoas podem causar comportamentos futuros ou o que fazer para controlar os seus próprios sentimentos. 

Em consequência disso, Kelly não reconhece quando a sua melhor amiga, Lúcia, está a ter um dia difícil, fazendo com que a amiga se irrite com a sua insensibilidade. Mais tarde na aula de literatura inglesa, uma aula na qual ela muitas vezes luta porque requer que ela analise e compreenda as motivações e emoções dos personagens de livros e peças. Kelly sente-se envergonhada por não poder fazer o trabalho de literatura inglesa que outros alunos parecem achar fácil. Ela também está chateada porque a Lúcia não fala com ela. Não consegue se livrar desses sentimentos, e não é capaz de se concentrar nos seus problemas de matemática da próxima aula. De acordo com MacCann (et al, 2020), por causa de sua baixa capacidade de gestão de emoções, Kelly não consegue se recuperar das suas emoções negativas e se encontra com dificuldades até mesmo em assuntos em que é boa.

Qual o caminho? Aposta em programas de desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais

MacCann adverte contra testes generalizados de alunos para identificar e direcionar aqueles com baixa inteligência emocional, pois pode estigmatizar esses alunos. Em vez disso, recomenda intervenções que envolvam toda a escola, incluindo treinos adicionais de professores e foco no bem-estar e habilidades emocionais dos professores. Os programas que integram o desenvolvimento de habilidades emocionais ao currículo existente seriam benéficos, pois a pesquisa sugere que o treino funciona melhor quando executado por professores em vez de especialistas externos. Aumentar as habilidades de todos, não apenas daqueles com baixa inteligência emocional, beneficiaria a comunidade escolar. 

 

Bibliografia:
MacCann C., Jiang Y., Brown L.E.R., Bucich M., Double K.S e Minbashian A. Emotional Intelligence Predicts Academic Performance: A Mata-Analysis. Psychological Bulletin. 2020 (vol. 146, no. 2 150-186)

Pederson, T. Students with high emotional intelligence may do better in Shool. PshyCentral, 2020. Disponível em https://psychcentral.com/news Acesso em 7/09/2020.